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sexta-feira, 25 de março de 2011

Carta falando de Lobato

Paraisópolis, 25 de março de 2011.


Caro amigo e colega da
Academia Joseense de Letras,
Júlio Ottoboni


“o sonho é a própria realização
em estado potencial”
M. Lobato.

Veja só que ironia: fui chamado para visitar a Biblioteca Municipal de minha cidade, Paraisópolis, que anteriormente estava mal acomodada na Câmara Municipal e foi despejada, no mal sentido da palavra, e enfiada em um local completamente inadequado para sua finalidade. Os livros ficaram amontoados, colocados nas prateleiras organizados por tamanho, misturando assuntos, autores, categorias,. Sem ventilação, nem local para se fazer uma pesquisa. Com todos os senões, comecei a olhar os livros, um dos primeiros em que coloquei os olhos, não foi outro, nada mais nada menos do que “Pássaro da Solidão”, de Eugênia Sereno, foi de arrepiar. Em seguida, Paulo Núbile. Mas o que não resisti e tomei emprestado foi: MONTEIRO LOBATO, Vida e Obra, de autoria de Edgard Cavalheiro, da Editora Brasiliense, de 1962, volume 2.
Este é um livro que precisa ser lido, por todas as pessoas que querem entrar na polêmica sobre este importantíssimo autor brasileiro, mais uma vez no foco das maledicências e das injustiças que sofreu em vida e não precisou de outra defesa que não fosse a sua dignidade.
Para não lhe tirar o prazer da leitura vou citar dois fatos narrados no livro. Não colocarei aspas nas citações para não transcrever o que lá brilhantemente está registrado. Certa ocasião, ainda na década de trinta, em plena pregação cívica e comercial, que fez por todo país, Lobato teve uma grande e estonteante surpresa: a sua popularidade. Fica apavorado. Não supunha que fosse tão querido, não pensava que seu nome tivesse penetrado com tal intensidade em todos os recantos do país. Não é o patriota que saúdam, aplaudem e homenageiam o Escritor.
...
A Calúnia campeia livremente. Tratam-no de espertalhão e charlatão.
...
Em outro momento tentando levantar recursos para a Cia. Petróleo do Brasil, com todos contra: governo, imprensa, capitalistas, bancos desfavoráveis, vê entrar em sua sala um negro, modestamente vestido, de ar humilde. E desenvolveram o seguinte diálogo (agora terei que usar aspas):
“- Que deseja?”
“- Quero tomar ações”.
“ - Para quem?”
“ – Para mim mesmo”.
O fato surpreendeu os presentes. Aquele homem tão humilde a querer comprar ações! Repetiam ao pobre homem a cantiga de sempre, mas a resposta foi que sabia de tudo, apesar disso queria trinta ações.
Diante dos olhos arregalados de Lobato, que, duvidando, repetia a pergunta, o preto continuou:
“- Trinta, sim”.
“Entreolhamo-nos. O homem devia estar louco. Tomar trinta ações, empatar três contos de réis num negócio em que a gente mais endinheirada não se atrevia a ir além de algumas centenas de mil-réis, era evidentemente loucura.
“- Você é rico, homem?
“ – Não. Tudo quanto tenho são estes três contos de réis que juntei na Caixa Econômica. Sou empregado da Sorocabana há muitos anos. Fui juntando de pouquinho em pouquinho. Hoje tenho três contos”.
“- E quer por tudo em um negócio que pode falhar?”
“ – Quero”.
Chagamos a afirmar que pessoalmente não tínhamos muitas esperanças de vitória”.
“ – Quero trinta”.
“ – Mas porque homem de Deus? – indagamos ansiosos por descobrir o segredo daquela decisão inabalável. Seria a cobiça? Crença de que com trinta ações ficaria milionário, em caso de jorrar o petróleo?”
“Não. Não sou ambicioso – respondeu ele serenamente. – Nunca sonhei em ficar rico”.
“- Então por que é, homem de Deus?”
“ – É que eu quero ajudar o Brasil”.
Lobato conclui que o fato calou fundo em sua alma, e que uma aguinha impenitente turvou-lhe os olhos, daquele exemplo humilde e nobre.
Os incorporadores da companhia juraram, “lá por dentro” levar até o fim a companhia, custasse o que custasse, sofressem o que sofressem, houvesse o que houvesse. “Tínhamos que nos manter à altura daquele negro”.

...
O episódio da prisão de Monteiro Lobato, deixando-o incomunicável é de emudecer. Não vou lhe contar em detalhes pois sei de seu gosto pela pesquisa e da sua coragem em defender os seus pontos de vista.

Saudações acadêmicas,

José Antonio Braga Barros

Um comentário:

  1. Gosto muito de seu jeito de escrever...e um estilo todo peculiar...e voce! Parabens por todas estas conquistas...idealista que segue em frente PORQUE ATRAS VEM GENTE!!!Mineiro que nao trabalha em silencio mas que arregaça as mangas e, sem querer, muda o nosso modo de pensar,,,( como esta acontecendo comigo!...) quero uma casa nas montanhas de frente para o Machadao...( sempre amei o meu parente geografico!)

    Por favor, onde posso encontrar MINHAS GERAIS... Um abraço. Magda Machado.

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